quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS AGROSSILVOPASTORIS NO BRASIL

Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Agrossilvopastoris no Brasil, Parte 1 – Orgânicos, artigo de Antonio Silvio Hendges
[EcoDebate] O Plano Nacional de Resíduos Sólidos em sua versão preliminar disponível para consultas no site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br), traz um diagnóstico dos resíduos sólidos orgânicos com origem nas atividades agrossilvopastoris e agroindústrias primárias associadas com estas atividades. Além da quantificação destes resíduos, realizou-se uma estimativa das possibilidades energéticas através do reaproveitamento da biomassa. Os dados são apresentados por áreas: agricultura, pecuária, silvicultura e agroindústrias primárias e foram calculados com base na produção do ano de 2009. As análises relacionadas com a agricultura e a pecuária consideraram as culturas agrícolas e as criações de animais mais representativas para a economia do país. Nas culturas agrícolas permanentes foram avaliados o café em grãos, cacau em amêndoas, banana em cachos, laranja, castanha de caju, coco da Bahia e uva. As culturas agrícolas temporárias selecionadas foram a soja em grãos, milho em grãos, cana de açúcar, arroz em casca, feijão em grãos, trigo em grãos e a mandioca. Na pecuária foram selecionados os bovinos de corte e leite, aves de corte e postura e os suínos. Na silvicultura, considerou-se a produção de madeira em toras e utilizadas na produção de lenha, carvão vegetal celulose e papel.
Em 2009, as agroindústrias associadas à agricultura produziram 290.838.411 toneladas de resíduos orgânicos, com 69% originados no bagaço e torta de filtro da cana de açúcar na Região Sudeste. O potencial energético da biomassa destes resíduos é de 23 GW/ano. Na pecuária, a produção estimada foi de 1.703.773.970 toneladas/ano, com 32% deste total gerado pela pecuária de corte extensiva da Região Centro Oeste. A criação extensiva dificulta a utilização destes resíduos na biodigestão e no aproveitamento energético. As atividades predominantemente confinadas como suinocultura, avicultura e pecuária leiteira produziram em conjunto 365.315.261 toneladas/ano com potencial energético de 1,3 GW/ano. Adicionalmente, as indústrias associadas com estas atividades como laticínios, abatedouros e graxarias geraram resíduos sólidos e líquidos com potencial de 15 MW/ano. Observação importante é que o tamanho e a localização das atividades inviabilizam as soluções individuais, sendo indispensáveis estudos regionalizados e espacialização das atividades para a implantação de sistemas coletivos de biodigestão.
Os resíduos florestais foram considerados em duas etapas da cadeia produtiva: colheita e processamento mecânico, não sendo considerados os resíduos na indústria de transformação. O total foi de 85.574.465 toneladas/ano e os resíduos das indústrias de papel e celulose foram de 10.916.640 toneladas/ano em 2009. Na silvicultura, a geração potencial de energia foi estimada em 1604 MW/ano, mas não está considerado o potencial das indústrias de celulose que utilizam resíduos para a cogeração, por exemplo, o licor negro. Os resíduos de madeira apresentam volumes significativos e envolvem diversos setores como indústria moveleira, construção civil, postes de linhas de transmissão de energia e tem um potencial acentuado de periculosidade por causa das madeiras tratadas com produtos tóxicos como conservantes, vernizes e tintas durante o beneficiamento ou no pós consumo.
Setores
Produtos/fase
Produção
Resíduos
Efluentes
Potencial
Agroindústrias da agricultura
Culturas
Indústria
(t/ano)
Total
(t/ano)
Efluentes
(m³/ano)
Energia
(MW/ano)
Soja
57.345.382
41.862129
-
3.422
Milho
50.745.996
29.432.678
-
2.406
Feijão
3.486.763
1.847.984
-
143
Arroz
12.651.774
2.530.355
-
175
Cana de açúcar (bagaço e torta de filtro)
Cana de açúcar (vinhaça)
671.394.957
201.418.487
604.255.461
16.464
Trigo
5.055.525
3.033.315
-
238
Mandioca
23.786.281
-
-
-
Café
2.440.057
1.220.029
-
97
Cacau
218.487
83.025
-
07
Banana
199.282
99.640
-
-
Laranja
16.944.529
8.825.276
-
-
Coco da Bahia
675.012
405.009
-
39
Castanha de caju
110.253
80.484
-
08
Uva
614.574
-
-
-
Subtotal
845.678.872
290.838.411
604.255.461
22.999
Pecuária
Criações
Cabeças
Dejetos (m³/ano)
Efluentes (m³/ano)
Energia (MW/ano)
Aves (postura e corte)
4.982.512.597
28.025.854
-
137
Bovinos (leite)
22.435.289
316.909.675
-
1.032
Suínos
38.045.454
20.379.732
-
122
Subtotal
5.042.993.340
365.315.261
-
1.291
Agroindústrias da pecuária
Atividades
Animais abatidos/litros de leite
Total de resíduos (t/ano)
Efluentes (m³/ano)
Energia (MW/ano)
Abatedouros de aves
4.773.641.106
-
69.434.780
7,6
Abatedouros de bovinos
12.037.241.550
216.670
19.643.882
2,2
Abatedouros de suínos
30.932.830
49.493
12.373.132
1,4
Graxarias
-
-
6.844.808
0,8
Laticínios
19.497.875
-
13.244.345
2,6
Subtotal
16.861.313.361
266.163
121.540.947
15
Florestal
Etapas
Madeira em toras (m³/ano)
Resíduos (m³/ano)
Efluentes (m³/ano)
Energia
Colheita
122.159.595
34.795.898
-
650
Processamento mecânico
-
50.778.566
-
954
Subtotal
122.159.595
85.574.465
-
1.604
Produção e potencial energético dos resíduos sólidos agrossilvopastoris. Fonte: Plano Nacional de Resíduos Sólidos – Versão preliminar
Os resíduos agrícolas são utilizados em grande parte para alimentação animal e/ou humana, fertilizantes orgânicos e outros usos nas propriedades rurais, reduzindo significativamente o potencial energético, além de apresentarem inviabilidades técnicas no seu aproveitamento como descentralização, equipamentos e transportes. A tendência é a geração de resíduos agrossilvopastoris aumentarem nos próximos anos tornando indispensável o manejo, tratamento e disposição adequados, sendo as atividades agrossilvopastoris dependentes dos recursos naturais. Em algumas regiões, os resíduos de biomassa podem aumentar a participação na matriz energética brasileira.
As sugestões para estes setores é a implantação de planos de gerenciamento dos resíduos agrossilvopastoris, inclusão no Sistema Nacional de Informações de Resíduos Sólidos – SINIR, incentivos ao aproveitamento energético através da combustão ou biodigestão individuais ou consorciadas, criação de fundos de investimento para a implantação de projetos eco eficientes na produção e nas agroindústrias e a elaboração de políticas de manejo florestal.
Antonio Silvio Hendges, articulista do Portal EcoDebate, éProfessor de Biologia e Agente Educacional no RS; assessoria em resíduos sólidos e tecnologias, tendências ambientais e educação ambiental. Email: as.hendges@gmail.com
EcoDebate, 07/02/2012

DIAGNÓSTICO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS AGROSSILVOPASTORIS NO BRASIL, PARTE 2 – INORGÂNICOS, ARTIGO DE ANTONIO SILVIO HENDGES
 [Ecodebate] O Plano Nacional de Resíduos Sólidos – versão preliminar disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) traz um diagnóstico dos resíduos sólidos agrossilvopastoris inorgânicos no Brasil. Foram avaliadas as embalagens de agrotóxicos, fertilizantes, insumos farmacêuticos veterinários utilizados nas criações de bovinos e aves, resíduos sólidos domésticos e o esgotamento sanitário rural. O Brasil é atualmente o país com maior consumo de agrotóxicos com 700 mil toneladas e vendas de sete bilhões de reais por ano. As embalagens de agrotóxicos são consideradas como resíduos perigosos e apresentam riscos elevados de contaminação ambiental dos solos e águas, animais e seres humanos. As Leis 7.802/1989 e 7.974/2000 regulamentada pelo Decreto 4.074/2002 responsabilizam todos os segmentos envolvidos diretamente com a utilização dos agrotóxicos: fabricantes, revendas, usuários e poderes públicos devem destinar adequadamente estas embalagens.
Em 2002 foi criado pelas indústrias fabricantes de produtos fitossanitários o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias – INPEV, que coordenou desde sua fundação a retirada de 168 mil toneladas de embalagens de agrotóxicos em todo o país e calcula que em 2010 as embalagens primárias que entram em contato com os produtos foram recicladas em 95%. Embora o Brasil tenha bons instrumentos e uma eficácia acentuada na logística reversa das embalagens de agrotóxicos, há uma disparidade na sustentação econômica: o INPEV tem um investimento no programa de R$ 430 milhões e um retorno de somente 17% dos custos de destinação aos recicladores conveniados.
Em relação às embalagens de fertilizantes não há legislação ou programas que incentivem a destinação correta e as estatísticas sobre este assunto são praticamente inexistentes. As projeções são baseadas no fato de que o Brasil é o quarto consumidor de nutrientes para formulação de fertilizantes com 24,5 milhões de toneladas comercializadas em 2010, principalmente em sacas de 50 kg e big bags de polietileno de 1 e 1,5 toneladas. Com estes dados foi estimada uma produção de 64,2 milhões de embalagens/ano sem nenhuma destinação ambiental adequada. Com as embalagens de medicamentos veterinários também não há nenhuma ação concreta de destinação adequada. A legislação dispõe sobre a fiscalização dos produtos e indústrias, comércio e emprego dos medicamentos veterinários, mas não estabelece regras para o destino das embalagens vazias (Decretos 467/1969; 1662/1995; 5.053/2004). Atualmente existem alguns projetos de leis que pretendem regulamentar a logística reversa das embalagens veterinárias em um sistema similar as dos agrotóxicos.
Existem atualmente 7.222 produtos de uso veterinário autorizados para comercialização, destacando-se as vacinas, antibióticos e parasiticidas com vendas de R$ 3 bilhões. A bovinocultura de corte e leite é responsável por 55% e a avicultura por 15% do mercado veterinário brasileiro. Para a pecuária, estima-se em 26,3 milhões de ampolas/ano de vacinas contra febre aftosa, clostridiose, raiva, brucelose e leptospirose e 7,4 milhões de embalagens/ano de antiparasitários. A avicultura deixa 10 milhões de ampolas/ano de vacinas contras as doenças de Marek, Gumboro, Newcastle e coccidíase em vidros com média de 2000 doses.
Quanto aos resíduos sólidos domésticos nas áreas rurais, constatou-se uma tendência de aumento em sua produção tornando-se semelhante aos resíduos sólidos urbanos. A expansão da eletricidade, a generalização dos hábitos de consumo contemporâneos e o acesso facilitado às cidades tornam as comunidades rurais produtoras de resíduos como plásticos, pneus, pilhas, aparelhos eletroeletrônicos, lâmpadas, embalagens em geral. Como somente 31,6% dos domicílios rurais são atendidos por sistemas de coleta, 70% queimam, enterram, depositam em terrenos baldios que formam lixões rurais, jogam em rios, açudes e igarapés. Se considerarmos uma população de 30 milhões nas áreas rurais e a geração subestimada de 0,1 kg de resíduos sólidos/dia é 1,1 milhões de toneladas/ano. Mas se tomarmos como referência os municípios com até 20 mil habitantes que produzem 0,44 kg de resíduos/dia e considerarmos a tendência de aumento dos resíduos rurais, são 5 milhões de toneladas/ano. Os esgotos sanitários nas áreas rurais brasileiras atingem somente 25% dos seus habitantes de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, tornando a situação bastante precária. Considerando um consumo de 90 litros de água/dia/habitante são produzidos aproximadamente 72 litros de esgoto/dia/habitante, com 2,2 milhões de m³ de esgoto doméstico rural/dia e 800 mil m³/ano de matéria orgânica.
Segmento
Resíduos produzidos/ano
Agrotóxicos
31.266 toneladas de embalagens/ano
Fertilizantes
64,2 milhões de embalagens/ano
Insumos farmacêuticos veterinários
Bovinocultura (55%):
Vacinas: 26,3 milhões de embalagens/ano
Antiparasitários: 7,4 milhões de embalagens/ano
Avicultura (15%):
Vacinas: 10 milhões de embalagens/ano
Resíduos sólidos domésticos rurais
1,1 milhões a 5 milhões de toneladas/ano (50% orgânicos e 50% inorgânicos)
Esgotamento sanitário rural
2,2 milhões de m³/dia;
800 mil m³/ano de matéria orgânica.

Resíduos sólidos inorgânicos produzidos nas atividades agrossilvopastoris. Fonte: Plano Nacional de Resíduos Sólidos – Versão preliminar
Antonio Silvio Hendges, articulista do Portal EcoDebate, é Professor de Biologia; assessoria em resíduos sólidos e tecnologias, tendências ambientais e educação ambiental. Email: as.hendges@gmail.com


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